Antes de já sair sendo agressivo com esse jogo, acho bom eu dar uma pequena introdução obrigatória sobre quem eu sou e minha relação com a franquia Ace Attorney. Eu estou nesse blog desde a era primordial, quando todo mundo era fruto da esquizofrenia do Otenko e a quantia de postadores era ativa e não ficava coçando o saco o tempo todo. Infelizmente, eu postei um ou duas postagens e depois acabei ficando com muita preguiça e sem muito orgulho do que eu havia escrito (tanto que a maioria dos meus artigos antigos foram excluídos), mas pretendo voltar e espero que me detestem pelas opiniões amaldiçoadas ou que pelo menos se divirtam lendo.
Bom, eu conheço a franquia Ace Attorney desde 2016 e meu amor sobre ela aumentava ou diminuía aleatoriamente sem muita explicação. Às vezes eu pegava para jogar um AA que não havia jogado e me surpreendia com a qualidade estupenda de algum caso ou acabava perdendo toda vontade de continuar com a franquia quando alguns erros se mostravam mais constantes em cada instalação nova. Mas acho o que me não perder o carinho que eu tenho pela franquia é seu grande potencial e sua comunidade, na qual fui muito ativo e conheci um bocado de gente nova através do Attorney Online e Ace Attorney Online (sim, nomes criativos e que por incrível que pareça, não possuem relação alguma no que fazem). Porém devo dar ênfase na palavra potencial, pois era realmente o que mais me prendia na franquia. Acho que a ideia de expor as mentiras na corte jogando como um advogado é algo que acabou sendo muito mais interessante do que parece e sempre desejei por melhorias e mais ideias ambiciosas nos próximos jogos.
Atualmente não tenho mais paciência para pegar qualquer outro jogo da franquia depois de ter odiado quase todo o tempo que gastei com Dual Destinies e ter me decepcionado com DGS (Dai Gyakuten Saiban). E como postar que não gostou de DGS em um grupo da franquia é totalmente suicídio, resolvi botar para fora o que me fez achar esse jogo uma decepção e tanto, mas sem focar muito em contar o enredo porque não tenho paciência pra resumir história.
O jogo tinha de tudo para ser promissor
Bom, eu fiquei bastante animado em saber que Takumi iria retornar para escrever. Ele foi responsável pelos melhores casos da franquia inteira (como também foi responsável de um dos piores), mas sem dúvida prefiro ele no comando do que o maníaco que resolveu escrever Dual Destinies. Sei que o mesmo maníaco quando está determinado consegue fazer uma obra prima que nem o Investigations 2 (sim, nem eu acredito nisso), porém o Takumi parecia ter ideias melhores para a continuação da franquia. Combinando isso com os milhares de elogios que eu escutava, o setting steampunk e a adição do Shrelock Holmes, eu com certeza estava com expectativas altíssimas para o jogo.
Logo de cara notamos que a premissa do jogo é bem interessante. Jogamos com antepassados dos personagens da franquia AA num Japão feudal com tecnologia movida a vapor. E eu não vou mentir, gosto bastante de obras com essa vibe steampunk, mas não são todos que conseguem fazer um mundo crível ou único com esse tema. Aqui infelizmente ocorre esse problema pertinente. O mundo parece ter uma lore legal, porém nunca bem explorada no jogo inteiro, além de possuir uma enorme inconsistência tecnológica. O que poderia servir como algo mais inteligente, fazendo o jogador se preocupar com coisas do tipo "agora que não há como descobrir [coisa X ou y que seria muito fácil de identificar com a tecnologia atual], como irei provar?" é substituído por "não importa, essa personagem muito inteligente vai trazer uma invenção para ajudar nisso quando for conveniente."
Mas eu diria que a parte pré caso serve muito bem para introduzir os personagens e o mundo. Posso não gostar tanto do mundo, mas admiro o trabalho que tiveram ao estabelecer as relações e diferenças do Japão e Inglaterra na época. Também acho que Ryu, Susato e Kazuma são bons personagens, tanto em design quanto relação. Conseguimos ver o quanto Ryu considera Kazuma e o nível de amizade já cedo. E fico feliz que não deram um copypaste da personalidade do Wright no Ryu ou da Maya na Susato (ainda mais quando toda garota assistente nessa série é uma Maya só que com visual diferente). Diria que as interações que eles possuem são bem naturais e divertidas de se ler, o triste é saber que isso não se aplica muito com os personagens que não são principais que o jogador terá de aturar nos próximos capítulos.
DGS já começa com o típico "primeiro caso de Ace Attorney" e isso com certeza me deixou desanimado. Dito isso, quem tá acostumado com a franquia já sabe muito bem o que se esperar. Acho que o único da franquia que fez algo sensacional como uma introdução e não manteve a mesma fórmula estúpida de antes é Apollo Justice, com um tema bem criativo e que não trata o jogador como se fosse um acéfalo. Eu esperava que algo do mesmo nível fosse possível encontrar nesse, mas fui completamente enganado. Esse caso reutiliza vários clichês da franquia, como o clássico 'Third Party' e faz ainda a proeza de revelar que tinha mais alguém na cena logo no começo, tirando totalmente o suspense. Eu até relevo essa no primeiro jogo, pois era algo bem mais experimental e único, mas chega a encher o saco saber quem é o culpado toda santa graças a preguiça dos roteiristas.
O TERCEIRO CASO É O MELHOR???
Por incrível que pareça, o terceiro caso acabou sendo o melhor do jogo inteiro. O número "3" é desmasiadamente amaldiçoado para a franquia Ace Attorney, já que quase todo terceiro caso acaba sendo o pior. DGS resolveu dar uma de desconstrutor de gênero shounen fazendo os personagens andarem de trem e desconstruiu ainda mais ao ter a audácia de fazer o terceiro caso ser o melhor.
Ele possui uma duração ideal, não possui investigação chata e a história é muito bem executada. Acho que pela falta de investigação, não faria diferença alguma se esse fosse o primeiro caso do jogo ao invés daquele começo que deixa a desejar. E com certeza corrigiria um dos problemas que o segundo caso desse jogo trouxe. É com esse caso que vimos pela primeira vez o sistema de júri, já que se passa na Inglaterra ao invés do Japão. Não faço ideia por que a Capcom tratou essa ideia como se fosse uma adição muito inovadora e que resolveria os problemas de "AA novo sempre parece o mesmo" que uns reclamavam. Ela sem dúvida alguma tem potencial, mas falha por ser linear. Ou seja, só vai ser ativado quando a história deseja que se ative. Poderiam criar toda uma tensão e camadas de complexidade ao jogo ao fazer os seus atos afetarem o pensamento dos juris, porém como tudo é pré-determinado todo esse potencial acaba sendo jogado fora.
Até porque justamente o que faltava nesse jogo era caso fillerPor algum motivo incompreensível o quarto caso não possui muita relação com os anteriores, sendo daqueles casos "ame ou odeie". Sei que tem gente que se irrita demais com casos que existem só pra ter o número perfeitinho de cinco casos, mas esse foi um dos mais criativos da franquia inteira. Não abusa dos clichês, a forma como o crime ocorreu é bem única e inesperada, o maior problema é ser o penúltimo caso do jogo e não ser muito importante para a narrativa.
O quinto e último caso é tão longo e nada demais que chega a dar desânimo. Tudo que ocorre aqui já foi visto em outros da franquia de maneira muito mais eficiente e com personagens melhores. Para um último caso, é muito fraco e o problema sobre a tecnologia ser inconsistente fica ainda mais visível por aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário